A adaptação do roteiro foi uma junção entre a prioridade na fidelidade ao texto com o fazer cinema. Além disso, desde que Ziembinski adaptou a obra para os palcos em 1943, tendo, para isso, inovado em técnicas de iluminação a fim de dar conta com fidelidade aos três planos que constituem a obra, ninguém mais havia se atrevido a tentar. Importante notar que o início do filme é também o início da vida na casa (que é um tema importantíssimo da obra), inclusive sendo mobiliada. Começa o filme, começa a vida na casa. A poesia e a leveza do plano da alucinação é o ponto mais forte da obra, pois é o que buscava a "alma" de Alaíde e ela foi atendida no filme, enquanto buscava legitimar seus sonhos. O peso da realidade foi bem dosado, mesmo atendendo, e muito bem, a um subtexto extremamente realista. A memória mostra as "baixas" motivações das personagens e a visão bem humorada das situações desagradáveis foi uma opção genial, que não mudou o caminho do texto, mas a forma de contar. Ótimas músicas no bordel, com roteiro cheio de detalhes significantes, percebidos não só de uma vez, mas a cada reprise do filme, encantando por seus significados. Belíssimos elenco e direção de atores, que estão harmonizados, em sintonia e generosos uns com os outros. O filme inova em detalhes que reforçaram a intenção da obra: O sutil humor, a cena do altar, o bouquet da Clessy para Alaíde, o Pedro como o "autêntico cafajeste rodrigueano"...
Marília Pêra trouxe para madame Clessy um humor inexistente ao texto, sob direção de Joffre Rodrigues que, também, em outros momentos, foi o responsável por inovar com pitadas de humor no filme. Levemente sarcástico, um humor ao estilo Nelson Rodrigues. .
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Em um dado momento, o palitinho cai da boca de Pedro quando ele vê Alaíde simulando ser madame Clessy, mas “recalca” o desejo e a repreende por seu comportamento “imoral”. Ele a queria como a esposa de seu projeto de vida machista..
Alaíde, por sua vez, quer fugir da repressão moral em que vive, se refugiando no plano da alucinação, mas no seu sonho de liberdade - de ser uma prostituta de classe -, se entregaria a Pedro (o cliente do bordel tem o rosto de Pedro), pois ela queria Pedro, mas não na vida que levava. Como prostituta de sua fantasia, ela acreditava poder alcançar a sonhada liberdade estando, ao mesmo tempo, com seu amor Pedro.
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Nesse embaraço da fuga pelo "inconsciente", Alaíde cai em outro engano. Ela
se refugia no mundo da alucinação, o mundo que desejava, mas quando está nesse mundo, tenta buscar sua vida de volta, já que não consegue viver sem um passado. Estava presa à sua realidade frustrante, motivada por sentimentos viciosos, dos quais não conseguia se desfazer, mesmo quando pensava estar realizando seu projeto de liberdade e amor. (visão de mundo
pessimista). Posteriormente, o gesto na entrega do buquê à Lucia, simboliza que Alaíde perdoou a irmã e finaliza sua relação com o passado. Em seguida, Clessy tem uma atitude de generosidade, amizade e piedade para com Alaíde, entregando outro buquê à ela, indicando que, finalmente, Alaíde seguirá adiante. .
se refugia no mundo da alucinação, o mundo que desejava, mas quando está nesse mundo, tenta buscar sua vida de volta, já que não consegue viver sem um passado. Estava presa à sua realidade frustrante, motivada por sentimentos viciosos, dos quais não conseguia se desfazer, mesmo quando pensava estar realizando seu projeto de liberdade e amor. (visão de mundo
pessimista). Posteriormente, o gesto na entrega do buquê à Lucia, simboliza que Alaíde perdoou a irmã e finaliza sua relação com o passado. Em seguida, Clessy tem uma atitude de generosidade, amizade e piedade para com Alaíde, entregando outro buquê à ela, indicando que, finalmente, Alaíde seguirá adiante. . .
A cena do nu no hospital foi bastante comentada, no sentido de que muitas pessoas se revelaram por ela chocadas, apesar - e por isso mesmo - de não ter havido nesse nu, nenhum erotismo. Chocou, logo, e irrefletidamente, pois foi um nu de morte. Quando os médicos tiraram a roupa de Alaíde no hospital, de um modo pragmático, rápido e frio, em meio a conversas banais entre pares, enquanto Alaíde gemia em delírios, ela se assemelhou a um objeto. O público é provocado, portanto, à imagem de uma "autópsia" em vida e, quando, sob tal contexto, um dos médicos diz: “bonito corpo”, a percepção de Alaíde como mera carne, fica desagradavelmente explícita. Ou como diz Nelson Rodrigues:
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Não há nudez mais humilhada, mais ofendida, mais ressentida que a da autópsia. Velhos, moços, meninas, mocinhas, garotos, todos são espantosamente despidos. Ficam tão nus.
Já o nu na cena do bordel (imaginação da Alaíde), cheio de erotismo, não chocou. Ao contrário, a percepção da cena, no geral, levantou referências à sua beleza. Dessa vez, foi um nu de amor e não de morte.
.No final, enquanto se passam os créditos, ecoa-se a fala de Alaíde: “Ou Ave-Maria de Gounod ou de Schubert, outra não serve”. A música de fundo, junto à voz de Alaíde justo depois que, já morta, passa o buquê para Lúcia, referencia, em um ato de resignação e com toda a ternura e angústia possíveis, a aceitação de suas mortes: a perda de um sonho - um projeto de casamento "perfeito" acabado - e a morte propriamente dita. .
A adaptação para o cinema traz um ganho nos detalhes, e seus respectivos significados, que realçam e potencializam a obra original, mas é preciso estar com o paladar bem apurado para apreciá-los.
Vestido de Noiva _ Trailer:
